quarta-feira, 25 de março de 2009

Diz que um leão enorme ia andando chateado, não muito rei dos animais, porque tinha acabado de brigar com a mulher e esta lhe dissera poucas e boa

Era uma dessas baratinhas brancas e nojentas, acostumadas à só imundice e ao monturo, comendo calmamente sua refeição composta de um pedaço de barata podre e um pedaço de tomate podre (causando inveja a muita gente). Chegou junto dela um Rato transmissor de peste bubônica e lhe disse: "Comadre, ontem tive uma aventura extraordinária. Estive num lugar realmente impressionante, com você, comadre, certo jamais encontrará em toda sua vida". Barata comendo. "O lugar era uma coisa que realmente me deixou de boca aberta" - prosseguiu o Rato - "tão espantoso e tão diferente é de tudo o que tenho visto em minhas vida roedora". (É sua sina roer.) Barata comendo. "Imagina você - prosseguiu p Rato - "que descobri o lugar por acaso. Vou indo numa das cavidades subterrâneas por onde passeio sempre, entrando aqui e ali numa casa e noutra, quando, de repente, percebo uma galeria que não conheço. Meto-me nela, um pouco amedrontado por não saber onde vai dar e de repente saio numa cozinha inacreditável. O chão, limpo, quem nem espelho! Os espelhos, de um brilho de cegar! As panelas, polidas como você não pode imaginar! O fogão, que nem um brinco! As paredes, sem uma mancha! O teto, claro e branco como se tivesse sido acabado de pintar! Os armários, tão arrumados e cuidados que estavam até perfumados! Poeira em nenhuma parte, umidade inexistente, no chão nem uma palito de fósforo...
E foi aí que a Barata não se conteve. Levou a mão à boca num espasmo e protestou: "Que mania! Que horror! Sempre vem contar essas histórias exatamente no momento em que a gente tá comendo!"

Millôr Fernandes

MORAL: "Para o vírus a penicilina é uma doença."

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