quarta-feira, 25 de março de 2009

O jequitibá e o caniço

Era um jequitibá enorme, o mais imponente da floresta. Mas orgulhoso e gabola, fazia pouco caso das árvores menores e ria-se com desprezo da plantinhas humildes. Vendo a seus pés um caniço, disse:
- Que triste vida você leva, tão pequenino, sempre à beira d'água vivendo entre saracuras e rãs... Qualquer ventinho te dobra. Um tisiu que pouse em você tua haste já te verga que nem bodoque. Que diferença entre nós! A minha copa chega às nuvens e as minhas folhas tapam o sol. Quando ronca a tempestade, rio-me dos ventos e divirto-me cá do alto a ver os seus apuros.
- Muito obrigada! - respondeu o caniço ironicamente. Mas fique sabendo que não me queixo e cá à beira d'água vou vivendo como posso. Se o vento me dobra, em compensação não me quebra e, cessado o temporal, ergo-me direitinha com antes. Você entretanto...
- Eu, quê?
- Você, jequitibá, tem resistido aos vendavais de até aqui: mas resistirá sempre? Não revirará um dia de pernas para o ar?
- Rio-me dos ventos como rio de você - murmurou com ar de desprezo a orgulhosa árvore.
Meses depois, na Estação da Chuvas, sobreveio certa noite uma tremenda tempestade. Raios coriscavam um atrás do outro e o ribombo dos trovões estremecia a terra. O vento infernal foi destruindo tudo quanto se opunha à sua passagem.
O caniço, apavorado, fechou os olhos e curvou-se rente com o chão. E ficou assim encolhidinho, até que o furor dos elementos se acalmasse e uma fresca manhã de céu limpo sucedesse aquela noite de horrores. Ergueu, então a haste flexível e pôde ver os estragos da tormenta. Inúmeras árvores por terra, despedaçadas e, entre as vítimas, o jequitibá orgulhoso, com a raizama à mostra.

MORAL: "Quanto maior a altura, maior o tombo."

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