quarta-feira, 25 de março de 2009

O julgamento da ovelha

Um cachorro acusou uma pobre ovelhinha de lhe haver furtado um osso.
- Para que furtaria um osso - alegou ela - se sou herbívora e um osso pra mim vale tanto como um pedaço de pau?
- Não quero saber de nada. Você furtou o osso e vou levá-la já aos tribunais.
E assim fez.
Queixou-se ao gavião e pediu-lhe justiça. O gavião reuniu o tribunal para julgar a causa, sorteando para isso doze urubus de papo vazio.
Comparece a ovelha. Fala. Defende-se muito bem, com razões muito irmãs das do cordeirinho que o lobo em tempos comeu.
Mas o júri, composto de carnívoros gulosos, não quis saber de nada e deu a sentença:
- Ou me entrega o osso já e já, ou condenamos você à morte!
A ré tremeu: não havia escapatória!... Osso não tinha e não podia, portanto, restituir; mas tinha vida e ia entregá-la em pagamento do que não furtara.
Assim aconteceu. O cachorro sangrou-a, cortou-a em pedaços, reservou para si um quarto e dividiu o restante com os juízes famintos...

Monteiro Lobato

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